sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

habitus

Ainda que eu corra muito, sobra tempo. Voltando a falar do tempo, explico, falo dele porque ele não é meu. Na verdade, falo quase sempre do tempo perdido, preterido, desejado. O tempo do fundo, do mundo, nascer-dia do galo. Há um tempo de festa e agitação. O lençol no varal ou a bandeira na final sinalizam grande encerramento, há na boca o gosto de contento e o fim batendo à porta. Bate, sopra.

E mesmo que o céu navegue numa noite de marinho. Sendo lua o farol, nuvens baleias, bichos vivos, escamados e exóticos, ainda assim, é um mar-céu-marinho, nuvem-escama-peixinho, lua-farol-sorte de luz.

Sei que passam ceús e terras, mas a palavra fica, mesmo que vã. Quando machuca e fica marca, que a marca seja forte para envelhecer como cicatriz. Do contrário, apenas um roxo ou aranhões avermelhados, fica a dúvida da lição.

Devem ser sinais, sinais fortes e amarelos que informam a necessidade de atenção, otimismo e luta. Estando dentro do mar, sendo as ondas fortes e te levando pra longe, o pensamento te faz por um segundo desistir de nadar. Porém, a fome de vida, quem ainda te espera na praia, a inteligencia e a vontade de amar fazem braços e pernas abraçarem a onda mais amiga e voltar.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

desgoverno

Nunca mais falará seus sonhos e planos. Não sussurrará na boca de outrem desejos. Não cantará pela língua alheia anseios. Clara água não mais beberá. Ficará pela Holanda, por entre bosques molhados e frios. Seu corpo estará suado, molhado e frio. Basta apenas um café produzido no Brasil, tão quente e borbulhante quanto o sangue de quem primeiro os plantou. Roda de vermelho e branco na saia, na lua, na bola, no dia de São Jorge. Tocando raízes com orelhas e olhos. Raízes lhe brotam à boca, raiz forte que toca o céu da boca, da lona, do chão. No céu e no chão. Continua traduzindo o tempo e lhe dando poucos minutos que lhe escorregam a mão. Escorregam-lhe as mãos por mais 12 mãos seguras.Nunca mais falará seus planos e sonhos. Abre os olhos num pesadelo e volta logo pro corpo num dia frio de chuva. Ele diz que não. Frases perdidas, olhares perdidos, traços perdidos, mãos perdidas. Oh!, a embreagem quebrou.

domingo, 18 de outubro de 2009

Tempo primeiro

Falta tempo neste relógio. A paciência flui, escorrega e assim me entrega. Oh querida!, pise em ovos e chicoteie seu coração. Seja você um faquir e cicatrize as molezas. Dura, pedra e chão. Fria e rastejante.
No entanto, o ar penetra mais úmido e o sol brilha em vermelho. Se és sangue e mineral talvez também alcances o verdadeiro. Desculpe ter rido de você. Não sei, eterna dúvida e gosto de desconfiar. Veja meu bem, o que seria o verdadeiro? e onde ele esta?
Tantos problemas em balões e as soluções encravadas em rochas.

Tempo segundo

Sonha soprando brisa pra lá. Pulmão fraco sopra pouco e o sonho escorrega. Corpo transcende, espírito voa. Sendo assim, parece que sonhas acordada, sonâmbula. De olhos abertos seus pensamentos já fugiram do buraco profundo chamado subconsciente.
Vai falar de objetividade, do que toca e vê. Que lamento, vale mais sonhar, imaginar o impossível porque sua força não alcança o factível. Ainda rio, rio por não encontrar o verdadeiro, aquilo que as pernas curtas almejam percorrer. E vá saber, talvez o caminho seja pedra, grama, brasa ou lama.
Talvez deus seja o próximo, o do meu lado. Coitado de deus, morto todos os dias, fuzilado por este olhar, desprezado. No entanto, deus é salvo por lágrimas e agradecimentos, piedade senhor.
Ainda rio. O deus morto tira seu sono. deus vivo lhe mostra um novo dia.



quarta-feira, 30 de setembro de 2009

palavra em latada

pote vazio?
encha novamente.
com ideias e palavras.
corpo tranquilo?
listas incompletas de tão vazias.
destino correndo
rios fugindo
tecendo caminhos
Juntos,
à quatro pedais?
a realidade chegou
mandaram avisar
do pote cheio de amor
caiu,
quebrou.
a palavra amarrou o amor
doce língua,
dá nó em pensamento.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

dores da impossibilidade

Lamento. Que pena. Lamento a tristeza do mundo e a crueldade. Lamento que a beleza e a felicidade estejam à venda no supermercado. Lamento a surpresa pela integridade. Lamento olhos tristes ao ouvir sobre o amor.
Meu coração em alto relevo já deixou de ser pedra.

Foi um júbilo muito intenso

Depois de ficar anestesiada com a realidade limpa e bela, de esquecer o sono e o corpo oco, mentalizo calma. A alma resplandece porque todas as palavras foram ditas. Tirei a roupa e esvaziei corpos magros e indecifráveis. Vá com calma. Todos os olhos, ouvidos e dentes eu vejo. Não mais a intuição de desvendar palavras no céu da boca. Não tem como desvendar olhos tão profundos, tristes e decepcionados. E que pena me dá ouvir a desaprovação, lamentos de fracasso. Quero sugar toda a tristeza, quero tapar os ouvidos e não escutar pedidos de desculpas que me atingem o peito.
Não às máquinas, à descrença, ao medo, à covardia, à demagogia, e às puras mentiras. E é tudo tão simples, letras e números. Para de falar e fazer promessas. Desacredite e não aguarde, não espere. Quantas expectativas cumpridas e comprovadas em lugares tão doces e calmos. Sem zíper, sem máscaras, tapas ou vergonha.
Sou o que se vê e não basta. O que vejo me agrada mas é impossível não temer o mundo cruel, não parabenizar a cegueira, não desconfiar de deus.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

retrospectiva

ANO 18
Eu não escuto uma canção bem longe, mas sei que posso buscar o som, a luz. Orgulho é uma coisa que se quebra e saudade se esquece. Eu ando tão fria com os irmãos e ando tão esperançosa em relação à solidão. Não tenho arte no sangue, mas tenho humor na veia. Sinto me confortada pela minha felicidade vazia, minha alma limpa, minhas perguntas caladas (...). Que os anjos me iluminem e que eu sonhe com o amor. 30.11.2003

ANO 19
Tenho isso em mim
Um pouco de ti
Pra transformar em desejo
De palavras monossilábicas
01.02.2004

ANO 20
Quanto aquilo que julgo bom e simples espero sempre conservar. E que a sorte seja grata desta vez. Aquilo que eu esperava ser eterno, entendo, será eterno apenas dentro de mim, escondido entre minha covardia e minha ilusão.

ANO 21
Procuro algo verdadeiramente forte que me faça desistir. Por sorte não encontro. E então, o que ficará pra mim? Minhas visões de futuro, meu desprezo pelo passado, a felicidade inerte, tão inerte e tão longe (...). Meus sonhos e minhas visões alucinantes são bem melhores do que não ter sonhos e viver sempre em estado de embriaguês. Talvez falte embriaguês, definitivamente. 23.06.2006

ANO 22
Sou duo, sou trio, sou eu e só. Meu sorriso não vem de graça, por isso, nem o disfarço.

Eu queria me esconder numa ruína, como não podia, fiquei de mau-humor.

ANO 23
Acendo um incenso, acendo um cigarro. Acendo um incenso porque você merece. Merece a brasa queimando, merece a fumaça fugindo, o odor encontrando minhas narinas (...)

E eu mergulho, tento voltar à superfície e antes de lá alcançar descubro que o mergulho é essência.

Dependo de datas, números, contas e dias. Então, de nada valem planos. Já assim, ponho panos. Minha mudança me põe medo. Mudo e revelo segredos. Mudo e eu sou o segredo. Mundo.

Preciso iluminar minha alma, ocupar meus pensamentos, farejar oportunidades, ser disciplinada, crítica e reflexiva... Quanta pretensão!

PREVISÕES PARA O ANO 24
Olha meu futuro: escrevo pára-choques descontroladamente. Frases curtas me embalam.

sábado, 27 de junho de 2009

desarma quem ama
engana
mentiras não ditas
verdades implicitas
no coração que não fala
bate explana
fingimento de quem ama
ama mais quem não lhe quer

domingo, 26 de abril de 2009

só pode ser a inquietude que me faz correr, dançar, manter joelhos firmes. A inquietude é culpada pela minha falta de concentração.
Meus 23 se esvaindo e eu continuo refletindo o que se mostra a todo o tempo menos importante. E não há solução. Passo o dia ouvindo música, escolhendo colares, testando olhares... Pensamentos loucos, realidades incríveis, novas formas de barbárie, barbarizar, bárbaro! na sexta feira 24, faltando 48 para os 24 batem a minha porta gripe e crise. Juntas, de uma vez só. Tomaram conta de mim pela chuva, pela terra, pelo vento, pelo calor. Crise e gripe.
Na pia a pilha de louça do dia anterior e em dias de crise e gripe lógico que a água fria vai congelar meu coração. Estou perdida.
Acordei assim, abrindo a ultima página do Apocalipse. Me protegi com vermelho, sacrifiquei o cordeiro.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

mu-rá rá rá rá

Me achei entre o verde, pulando pedras grandes, separadas umas das outras. Estava com pés na água fria, pernas cheias de arranhões, mas não senti. Folhas caiam e bocas murmuravam o porque da existência. Eram só bichos, mães, vacas, macacos, onças, preguiças. Não havia preguiça, apenas descanso. Havia opções.
Estava entre o verde e pedi bênçãos a gigantes adormecidos nas montanhas. Eles, num bocejo, nos abençoaram. Seguraram a minha mão e pediram bênçãos a quem criou, divindade, pai, Deus. Seguraram minhas mãos, eu fechei os olhos e me abri pro verde.
Vi crianças que nunca choram e mulheres corajosas e fortes como as pedras que eu massacrava com os pés. Meu pensamento vagava por entre trilhas e ladeiras íngrimes, enquanto isso os pés escorregavam no limo viscoso.
Me repetem que nada adianta o planejamento. Bad, pró, muchachos, buchechonas, imbélezando, cajuzinho, arthuranderson, anos 70, laranja de matar, física quântica. BOOM.
Me achei entre o verde.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

explico antes ou depois? Deixa que ele explica.
"Porque só a ti preciso contar tudo, porque me és necessário, porque amanhã vou cair das nuvens e minha vida vai acabar e começar ao mesmo tempo. Já experimentaste alguma vez, ao menos em sonho, como se cai do alto de uma montanha? Pois bem...estou caindo e não é sonho. Não tenho medo e peço que também não temas... isto é, sim, tenho medo, mas esse medo traz uma sensação de doçura...ou melhor, não é bem doçura, mas um júbilo muito intenso.... Com todos os diabos! Pouco importa o que isso seja. espírito forte, espírito fraco, espírito de mulher - pouco importa! Louvemos a natureza: olha este sol, o céu tão azul, as folhas tão verdes - NÃO estamos em pleno verão."
DOSTOIEVSKI
Já pensei muito sobre os motivos que me levam a perseverar. Ainda penso, penso neles todos os dias, reflito, conscientizo. Quase que chego a conclusão de que as coisas ocuparão seus devidos lugares, mais cedo ou tarde. Só que agora estou num momento de espera, aguardando o final de um ciclo e nesse aguardar vivencio o instante, o presente, sedimento o passado minuto após minuto.Me falaram que sou complicada, estranha, surpreendente e que encaro as coisas em profundidade. Assumo, vivo em profundidade cada segundo da minha vida. Eu mergulho e quase sempre volto desesperada por ar, por ar. Por que não encontro o que tanto procuro? não obtenho o que tanto almejo? não se personificam as respostas que tanto necessito? sinto, como que em infinitos arrepios que algo surpreendentemente incrível me aguarda. Sobre tudo o que penso e reflito uma parcela pequena perpassa ao UNO. Quando sou DUO, TRIO (...) é apenas um floco de inspiração, uma faísca do eu. E eu não sei explicar. Não sei porque persigo tanto o amor, deve ser pra completar, pra somar. Achar algo no outro que explique por que somos assim, e Por que? No fundo, não paro de mergulhar, nunca parei. è o mergulho no penhasco de Dostoievski e não tem volta, não tem volta.

terça-feira, 7 de abril de 2009

a historia de Acauã

No dia em que Acauã nasceu seu pai morreu, sua história começou ali e mal ela tinha começado uma parte já havia se perdido. Acauã era um menino forte, esperto, mais esperto do que as crianças da sua idade. Vivia cercado de árvores, num lugar onde é possível resgatar o bucólico. Apaixonado por pássaros, aprendeu desde cedo a comunicar-se com eles, eram assobios diversos que os pássaros respondiam numa intensa algazarra. Dos vestígios de sua origem, restava-lhe apenas a mãe. Seu primeiro brinquedo, um carrinho de fricção, era vermelho, assim como sua camiseta preferida e seu primeiro caderno. O vermelho o perseguia, nas flores, no chão que pisava, nos muros da vizinhança, nas frutas que apreciava, nas letras que Acauã desenhava.
Cresceu sabendo que deveria buscar sua história, seu passado, os genes desconhecidos. E foi. Ainda criança surgiu uma primeira pista, na verdade, uma certeza que Acauã carregou consigo e dela ele se lembrava toda vez que o chamavam. Acauã. Na escola comemoravam o dia do índio, Acauã estava pintado como um, na cabeça penachos que não poderiam ser de outra cor que não vermelho. Acauã descobriu que carregava em seu nome a denominação Tupi para papagaio de cabeça vermelha.
Já apaixonado por pássaros, Acauã queria porque queria ter um papagaio de cabeça vermelha, talvez para ficar mais próximo de si. E não havia jeito, lembrava seu desejo diariamente a sua mãe. Acauã não dormia nem comia direito, necessitava do papagaio de cabeça vermelha, Acauã. Sua mãe entendendo que não haveria como aplacar a vontade do filho de possuir tal pássaro resolveu comprar um e presentear Acauã. Mas, tamanha era a dificuldade em comprar um animal silvestre, que mesmo relutando contra isso a mãe de Acauã sucumbiu aos meios ilegais para realizar o desejo do filho. Indicaram-lhe um senhor que provavelmente forneceria o tal papagaio de cabeça vermelha. No dia combinado, lá estava a mãe de Acauã segurando sua mão em frente a casa do senhor dos pássaros. Diante do tal senhor, a mãe de Acauã estava paralisada, não era senão o pai do seu marido falecido que estava diante de si, o avô de Acauã.
Diante do Embaraço da situação, e ainda segurando a mão do filho que quase escorregava devido ao suor do nervosismo, ela entendeu que não foi apenas uma fatalidade terem encontrado o corpo do marido embrenhado na floresta. Não foi uma vã crueldade os tiros despendidos contra ele. O pai de Acauã também apaixonado por pássaros pagou com a vida por cercear a liberdade dos pássaros que amava de um jeito peculiar. Deixou ao mundo Acauã, um menino papagaio de cabeça vermelha. Seu avô lhe explicou que não havia e nem haveria de ter naquela casa nenhum pássaro engaiolado, e que, da mesma forma que era impossível possuir pessoas, também era impossível possuir pássaros. Eles não pertenciam a outro lugar senão a floresta, a mata, o céu. A partir de então, Acauã voltou a pertencer à floresta, à mata e ao céu e não havia mais nada que lhe pertencia, apenas aquilo que ele apreciava. Assim como o seu nome, o vermelho e os pássaros.


quarta-feira, 25 de março de 2009

frases curtas

Espero que dê tempo. Eu já quis parar o tempo.
Perder momentos. Sair do mundo real. Já quis distância.
Era medo de sonhos. Quis descanso.
Fortaleza. Buscava o sim. A coragem corria.
dei com a cara na porta. O leão fugiu do circo.
Eu continuei ali. Reencontrei o preconceito envolto em fumaça.
Quem mentia me fez dançar. Cantava tal musica que eu não gostava.
Com mãos e pés. Conflitos e situações.
Fiquei ao lado do humor negro. Enfim.
O sentido das nuvens qual é? queria ser um vírus.
Provocar tumultos no mundo virtual. Incitar. Excitar.
Eu aprendi. Vejo claro minha imaturidade.
Vejo claro que devo calar. Voltar o olhar pra baixo. Refletir. E daí?
Disse que menti. Ao demonstrar minha fraqueza revelei decisão.
senti o medo. silencio. confusão. E novamente mãos e pés.
Costas na areia. Chuva pelas ruas. Qual o sentido das nuvens?

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Porque eu não tenho tempo para o comum, daí busco a todo tempo a inexistência social como forma de existir dentro de mim, de só ter pensamentos livres como companhia, me envolver na preguiça e nela descansar meu corpo. Eu não tenho tempo para o comum e vivo no lugar-comum, muitas vezes utilizo do senso comum, tantas vezes sábio senso comum, na maioria das vezes sábio senso comum. Os sonhos comuns como carro, casa, emprego, viagens, jantares e almoços de domingo concretizam a tão requisitada existência social. O ingresso pro abismo do lugar comum, de pessoas e atitudes comuns. Compre um carro e exista socialmente no engarrafamento, compre um apartamento e exista socialmente na reunião de condóminos, no domingo exista socialmente ao lado de dezenas de famílias famintas por macarrão.
O que importa é o que ganhamos e também o que doamos. Importa o sacrifício da ajuda e o prazer da utilidade para alguém. Atitudes corretas não rebatem na consciência, elas percorrem um pequeno caminho e correm rápido para engrandecer a alma. E como é complicado tocar a sinceridade, a genuinidade, as vontades primárias e louváveis. Como é complicado fazer do comum o diferente, o especial. Basta apenas um ponto de vista, o que era comum aqui mais adiante pode parecer cheio de encantos, sedução e desejos.
Por falar em coisas carnais, coisas que saciam, digo-lhes que pode ser amanhã meu encontro. Pode ser amanhã o fim dos uivos loucos de insatisfação, dos olhares instigadores. Até amanhã, o dia que pode ser, deixo meus ouvidos preparados para ao toque do não comum ouvirem em estéreo. Sendo estéreo, quem escuta primeiro é o coração, e aquela bateria ainda bate lá dentro. Claro, fui ansiosa em fugir do comum e meu coração emanava um som estéreo ritmado. Fui surpreendida por visões psicodélicas de bocas se encontrando, os dedos da minha mão escorregando entre o suor da sua. Era a camuflada manifestação do comum. E na rua, sem a companhia da lua e dos beijos certeiros e cheios de significado, escolho o comum que pra mim nada significa. Na despedida do instigante, do embebido de risos, poças d'água, abraços em árvores, impetuosidade, digo boa noite com o olhar de quem quer pedir desculpas, de quem se envergonha por escolher o comum.
O comum tem seu lado bom. Por vezes surpreendente. Ah, engano seu, corpo traidor. O comum é óbvio demais, mesquinho demais, egoísta demais. Não se enverede por aquilo que se apresentou ao seu olho, não se engane. Por que desprezar tanto o comum, o simples, o bucolismo de olhos fechados?
Se não há tempo para o comum, se perca no vazio da incompletude do mágico, especial, excêntrico. Não há completude sem o comum.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

ao teu

Olha as estrelas do céu,
infindas.
Em pensamento já pertenci a ti.
Eram meus: olhos, ouvidos e nariz
a boca eu sorvia, sorvia.
quis quem me queria
Eu queria mais
Queria que ele me queria.
Ignorei
Aconcheguei
Quis suas palavras
seu olhar
suas perguntas sem interrogação,
e eu exclamando por esconder segredos.
quis sua boca, seu corpo, seu caos.
Aprecio suas mentiras
dúvidas
impetuosidade.
Seus erros às favas
por eles, te odeio
quero nunca mais te ver
te maltratar
virar o olhar.
Que lhe diga respeito,
digo que te respeito
Olha as estrelas,
infindas.
Quando é noite,
a estrada leva você sem fim
ao fim.

como não podia ser

De repente destoou, secou, caiu. Antes disso brilho, sincronia, pandeiro. Sem êxito. A missão foi abortada já no princípio, falta de comunicação, falha na comunicação.
Não há vagas. Berram pela pessoa anónima, repudiam o deslumbramento. Alguém há de ver a liberdade nos olhos de quem desabafa. Ainda sem a confiança que nunca buscou, chamarizes pro silencio, concha, interior. Lanças aquilo que lhe aflige, que murmuram no seu ouvido, extravasa, abra a boca e sobreviva, conviva, interaja, pertença! A difícil tarefa de pertencer. Aceite o que é pra você aquilo que dizem olhando nos seus olhos.
Desconstrua, reconstrua, construa. Põe pra fora aquilo que a esmaga. Feche a porta, abra a janela pro mundo.
Deixe ele dançar, deixe ele transar com sua mente. Há alguém menos importante do que você? Não vale dizer que tudo acabou num final sem beijo e sem amor. Desvie da afetação e perca o sol reinante pulsando o sangue latino.
Pequena como grão, brilhante como vaga-lumes velhos e cansados. Você ainda sabe dos encontros por baixo dos lençóis? Dos livros largados nas mentiras, na preguiça, sem observação?
Então, o que você vai querer? No cardápio opções há muito revisadas, medo do novo e fome vencida.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

sobre o tempo

"quando a solidão aperta
é vazio no meu peito.
Tão só
e esse jeito de nuvem preta."
O tempo é precioso. Um tanto desastroso. Vivo aquela mesma angústia de outros tempos, a angústia que me persegue. Não é dádiva, é dúvida. É o medo de não ser, de não pertencer, de ter que encarar outro tempo.
Alimento minha insegurança porque me alimentam com insegurança. E não há culpados nisso, apesar de toda ação ser impulsionada por uma força, devo também ser culpabilizada pela inércia de esperar acontecer, o pagar pra ver. As vezes pago caro, outras barato. Outras, nem pago, deixo a conta pra quem se preocupar.
São tantas possibilidades mas as vontades se fecham em opções limitadas. É preciso ter o controle de alguma coisa, ao menos alguma coisa. Já que o tempo...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O +

O sol surgiu mansamente como sempre fez por todas as manhãs. Nos lençóis um pouco de sangue, um pouco de dor calada pelo remédio da madrugada. Pela janela, teima em ser paisagem outras janelas que se fecham a curiosidade. Por toda curiosidade, pares de olhos famintos por explicação, cheios de piedade.
Era dia de luz, era dia de sol. no descanso que se convertia em paz. Paz selada por lágrimas tão molhadas, tão cheias de cansaço, tão teimosas em cair e em inexistir perdidas no sono. Já não existe nada aqui, há dias tentam lhe contar. Não há nada que se mova, que pulse, que despenda força, já haviam lhe contado isso, não se lembra?
E agora, neste momento não há nada que a faça sofrer, esconder o choro, sentir medo. Enquanto você sonhava com dias de sol, eles colhiam gentilmente aquilo que voce não desejava, erva daninha, mato seco, fruta passada.
Brota o sumo para uma nova vida, o adubo é injetado na veia, mas ela disse que é preciso sulfato ferroso, repouso, líquido.
Desce as escadas menina e busca o sol que mansamente já alcançou a metade do céu. Busca uma saída diferente daquela que você conhece, busca o desconhecido, o surpreendente, aquilo que sempre esteve ali mas que você nunca observou. Vá rápido e não leve nada daquilo que já deixou, já não existe nada aí, eles lhe contaram. O que há de vir, precisa ser cavado com as mãos. Seu sangue é limpo e fraco, seu sangue é raro.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

loucuras de uma mente pertubada

Ela sonhou com ele. Era um ambiente claro, neutro, silencioso. Luzes altas, paredes sóbrias. Antes de entrar deu leves toques na mesa avisando da sua presença. Ninguém permitiu sua entrada, nenhuma voz se manifestou. Mas era a sua vez e ela entrou.
Encontrou dois olhos de um azul tão profundo, cabelos vastos de um branco limpo, o silencio da troca de olhares. E se olharam infinitamente, sem dizer uma palavra, apenas se olhavam.
Conduzida à cadeira pequena, pernas pro ar, pinças e contagem até três. Havia uma troca ali, uma confiança inexplicável. Sem nomes, sem endereços, sem telefone.
Ao acordar, e agora? tudo certo, tudo mal?
Mais tarde, numa conversa, quando veio a descobrir seu nome, quando lhe veio à memória sua fisionomia, seus cabelos brancos, seus olhos que poderiam ser azuis (e eram). A dúvida.
O que significava aquilo? Um sonho involuntário com quem pode ser. E pode? será?