segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

ao teu

Olha as estrelas do céu,
infindas.
Em pensamento já pertenci a ti.
Eram meus: olhos, ouvidos e nariz
a boca eu sorvia, sorvia.
quis quem me queria
Eu queria mais
Queria que ele me queria.
Ignorei
Aconcheguei
Quis suas palavras
seu olhar
suas perguntas sem interrogação,
e eu exclamando por esconder segredos.
quis sua boca, seu corpo, seu caos.
Aprecio suas mentiras
dúvidas
impetuosidade.
Seus erros às favas
por eles, te odeio
quero nunca mais te ver
te maltratar
virar o olhar.
Que lhe diga respeito,
digo que te respeito
Olha as estrelas,
infindas.
Quando é noite,
a estrada leva você sem fim
ao fim.

como não podia ser

De repente destoou, secou, caiu. Antes disso brilho, sincronia, pandeiro. Sem êxito. A missão foi abortada já no princípio, falta de comunicação, falha na comunicação.
Não há vagas. Berram pela pessoa anónima, repudiam o deslumbramento. Alguém há de ver a liberdade nos olhos de quem desabafa. Ainda sem a confiança que nunca buscou, chamarizes pro silencio, concha, interior. Lanças aquilo que lhe aflige, que murmuram no seu ouvido, extravasa, abra a boca e sobreviva, conviva, interaja, pertença! A difícil tarefa de pertencer. Aceite o que é pra você aquilo que dizem olhando nos seus olhos.
Desconstrua, reconstrua, construa. Põe pra fora aquilo que a esmaga. Feche a porta, abra a janela pro mundo.
Deixe ele dançar, deixe ele transar com sua mente. Há alguém menos importante do que você? Não vale dizer que tudo acabou num final sem beijo e sem amor. Desvie da afetação e perca o sol reinante pulsando o sangue latino.
Pequena como grão, brilhante como vaga-lumes velhos e cansados. Você ainda sabe dos encontros por baixo dos lençóis? Dos livros largados nas mentiras, na preguiça, sem observação?
Então, o que você vai querer? No cardápio opções há muito revisadas, medo do novo e fome vencida.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

sobre o tempo

"quando a solidão aperta
é vazio no meu peito.
Tão só
e esse jeito de nuvem preta."
O tempo é precioso. Um tanto desastroso. Vivo aquela mesma angústia de outros tempos, a angústia que me persegue. Não é dádiva, é dúvida. É o medo de não ser, de não pertencer, de ter que encarar outro tempo.
Alimento minha insegurança porque me alimentam com insegurança. E não há culpados nisso, apesar de toda ação ser impulsionada por uma força, devo também ser culpabilizada pela inércia de esperar acontecer, o pagar pra ver. As vezes pago caro, outras barato. Outras, nem pago, deixo a conta pra quem se preocupar.
São tantas possibilidades mas as vontades se fecham em opções limitadas. É preciso ter o controle de alguma coisa, ao menos alguma coisa. Já que o tempo...

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O +

O sol surgiu mansamente como sempre fez por todas as manhãs. Nos lençóis um pouco de sangue, um pouco de dor calada pelo remédio da madrugada. Pela janela, teima em ser paisagem outras janelas que se fecham a curiosidade. Por toda curiosidade, pares de olhos famintos por explicação, cheios de piedade.
Era dia de luz, era dia de sol. no descanso que se convertia em paz. Paz selada por lágrimas tão molhadas, tão cheias de cansaço, tão teimosas em cair e em inexistir perdidas no sono. Já não existe nada aqui, há dias tentam lhe contar. Não há nada que se mova, que pulse, que despenda força, já haviam lhe contado isso, não se lembra?
E agora, neste momento não há nada que a faça sofrer, esconder o choro, sentir medo. Enquanto você sonhava com dias de sol, eles colhiam gentilmente aquilo que voce não desejava, erva daninha, mato seco, fruta passada.
Brota o sumo para uma nova vida, o adubo é injetado na veia, mas ela disse que é preciso sulfato ferroso, repouso, líquido.
Desce as escadas menina e busca o sol que mansamente já alcançou a metade do céu. Busca uma saída diferente daquela que você conhece, busca o desconhecido, o surpreendente, aquilo que sempre esteve ali mas que você nunca observou. Vá rápido e não leve nada daquilo que já deixou, já não existe nada aí, eles lhe contaram. O que há de vir, precisa ser cavado com as mãos. Seu sangue é limpo e fraco, seu sangue é raro.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

loucuras de uma mente pertubada

Ela sonhou com ele. Era um ambiente claro, neutro, silencioso. Luzes altas, paredes sóbrias. Antes de entrar deu leves toques na mesa avisando da sua presença. Ninguém permitiu sua entrada, nenhuma voz se manifestou. Mas era a sua vez e ela entrou.
Encontrou dois olhos de um azul tão profundo, cabelos vastos de um branco limpo, o silencio da troca de olhares. E se olharam infinitamente, sem dizer uma palavra, apenas se olhavam.
Conduzida à cadeira pequena, pernas pro ar, pinças e contagem até três. Havia uma troca ali, uma confiança inexplicável. Sem nomes, sem endereços, sem telefone.
Ao acordar, e agora? tudo certo, tudo mal?
Mais tarde, numa conversa, quando veio a descobrir seu nome, quando lhe veio à memória sua fisionomia, seus cabelos brancos, seus olhos que poderiam ser azuis (e eram). A dúvida.
O que significava aquilo? Um sonho involuntário com quem pode ser. E pode? será?