terça-feira, 7 de abril de 2009

a historia de Acauã

No dia em que Acauã nasceu seu pai morreu, sua história começou ali e mal ela tinha começado uma parte já havia se perdido. Acauã era um menino forte, esperto, mais esperto do que as crianças da sua idade. Vivia cercado de árvores, num lugar onde é possível resgatar o bucólico. Apaixonado por pássaros, aprendeu desde cedo a comunicar-se com eles, eram assobios diversos que os pássaros respondiam numa intensa algazarra. Dos vestígios de sua origem, restava-lhe apenas a mãe. Seu primeiro brinquedo, um carrinho de fricção, era vermelho, assim como sua camiseta preferida e seu primeiro caderno. O vermelho o perseguia, nas flores, no chão que pisava, nos muros da vizinhança, nas frutas que apreciava, nas letras que Acauã desenhava.
Cresceu sabendo que deveria buscar sua história, seu passado, os genes desconhecidos. E foi. Ainda criança surgiu uma primeira pista, na verdade, uma certeza que Acauã carregou consigo e dela ele se lembrava toda vez que o chamavam. Acauã. Na escola comemoravam o dia do índio, Acauã estava pintado como um, na cabeça penachos que não poderiam ser de outra cor que não vermelho. Acauã descobriu que carregava em seu nome a denominação Tupi para papagaio de cabeça vermelha.
Já apaixonado por pássaros, Acauã queria porque queria ter um papagaio de cabeça vermelha, talvez para ficar mais próximo de si. E não havia jeito, lembrava seu desejo diariamente a sua mãe. Acauã não dormia nem comia direito, necessitava do papagaio de cabeça vermelha, Acauã. Sua mãe entendendo que não haveria como aplacar a vontade do filho de possuir tal pássaro resolveu comprar um e presentear Acauã. Mas, tamanha era a dificuldade em comprar um animal silvestre, que mesmo relutando contra isso a mãe de Acauã sucumbiu aos meios ilegais para realizar o desejo do filho. Indicaram-lhe um senhor que provavelmente forneceria o tal papagaio de cabeça vermelha. No dia combinado, lá estava a mãe de Acauã segurando sua mão em frente a casa do senhor dos pássaros. Diante do tal senhor, a mãe de Acauã estava paralisada, não era senão o pai do seu marido falecido que estava diante de si, o avô de Acauã.
Diante do Embaraço da situação, e ainda segurando a mão do filho que quase escorregava devido ao suor do nervosismo, ela entendeu que não foi apenas uma fatalidade terem encontrado o corpo do marido embrenhado na floresta. Não foi uma vã crueldade os tiros despendidos contra ele. O pai de Acauã também apaixonado por pássaros pagou com a vida por cercear a liberdade dos pássaros que amava de um jeito peculiar. Deixou ao mundo Acauã, um menino papagaio de cabeça vermelha. Seu avô lhe explicou que não havia e nem haveria de ter naquela casa nenhum pássaro engaiolado, e que, da mesma forma que era impossível possuir pessoas, também era impossível possuir pássaros. Eles não pertenciam a outro lugar senão a floresta, a mata, o céu. A partir de então, Acauã voltou a pertencer à floresta, à mata e ao céu e não havia mais nada que lhe pertencia, apenas aquilo que ele apreciava. Assim como o seu nome, o vermelho e os pássaros.


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