sexta-feira, 23 de julho de 2010

estrada

Eu faço refúgios, observo rostos e codifico empatias.
Talvez seja mais fácil mentir para si mesmo, talvez mais doloroso. É uma pena a não propriedade da coragem. Sei que ainda sou menina e todos os meninos são cruéis, cada um a sua forma.
Retorno ao roteiro, ainda lembro que ele é quebra-cabeça. Antes que eu enlouqueça, antes que a onda chegue e me deixe de mau-humor, sorrio pro moço ao lado: seus olhos são mais bonitos que seus óculos.

terça-feira, 20 de julho de 2010

ARMADURA

O peso de meus passos sobre o mundo é leve. Persistentemente caminho em direção ao ponto D conduzida por quem segura minha mão, seguramente ao chegar mais ninguém me guiará. Olharei para os lados e verei rostos questionadores perguntando intimamente pela pessoa estrangeira. A seta aponta brilhosamente o contorno, mas é preciso sutileza, ponderação, artifícios e engenhosidade.
Avise da minha importância e da minha fragilidade. Avise sobre minha confusão reinante, camuflada em forma de caricaturas estranhas à primeira vista, ao voltar o olhar, a falta de entendimento pode ser a senha para o abandono. Que seja a prevalência, aqui nada se torna automaticamente definitivo. Mantenho segredos que a ninguém interessam e é por isso que testo constantemente as pessoas, busco seus olhares de interrogação e desconfiança. E quando abrem sorrisos inesperados ganham de mim sorrisos de admiração, parabéns pela coragem de sorrir.
Ah sim! não me esqueço de acompanhar, de observar, de julgar. Estou lá, investigando sorrateiramente suas atitudes, suas falhas, sua altivez que me faz rir ou descansar o olhar em outro ponto, aquele ponto que me enche de luz, só pode ser o céu. Teve dias em que ele me escondia sua luz brilhante e eu, inocente, me esquecia, voltava a lhe fitar e só encontrava um céu cor de rosa, quanta decepção havia naqueles momentos.
Não espero, não interfiro, não incomodo, não busco. Aquele ponto D, onde ainda chegarei, será desmistificador de mim e aí sim, sim, poderás dizer que me conhece, poderei dizer que não me interessa, nunca me interessou, nunca me agradou. E entenderei que tudo isso é aquilo que repudio, que não quero. E como fui tola ao acreditar que esse sistema era harmonioso.
Ao lugar que um dia já pertenci tenho muitos agradecimentos mas admito que era forasteira, sempre fui. Aos que conquistei admiração, amizade, ajuda, aos que me doei, é com pesar que digo que passará, se já não passou. Meus braços rijos pra baixo sem atentar aos abraços. Não sou fã de apresentações, muito menos de despedidas. Não me educaram assim, ninguém me educou. Sou desprendida de pessoas e lugares e por isso o sofrimento de não pertencer, talvez nunca, nunca, nunca.
(inicio de 2009)

segunda-feira, 12 de julho de 2010

prateleira

Não sei onde vivem os pássaros
nem por onde passa o elefante
Meu rei possui pistolas
ama poesias
e conduz uma boiada
em sua comitiva há tantas virtudes quanto bois
Como se fosse possível mudar um país de continente
e determinar finais trágicos e racionais para o amor
Se fosse permitido manter a palavra amarrada neste reinado
eu gostaria de agradecer alvoradas e crepúsculos admiráveis
Dobrar caixas e guardar cheiros
guardar chaves
manipular práxis
O espírito selvagem adormece esperando sina
Não lembro de tanto brincar quando criança
Nem lembro onde estive a noite passada
mudei meu nome
e meus cabelos cresceram
Eu estava ali
lendo uma poesia aos pés do rei
(ele tinha guardado sua pistola)
e depois contamos tantas estrelas quanto bois

quinta-feira, 1 de julho de 2010

"Aqui tá muito frio mas ainda é verão"

É uma noite. Não é pra esconder felicidade, ou camuflar alguma coisa. Só uma noite de verdade. Havia também possibilidades, e assim seria outra noite. Mas nesta noite, depois de tarde dormida, tricô e conversa com meninas, conheci senhoras. Incrível, elas lêem livros em 30 minutos, cuidam de ateliers, cozinham caldo verde, tantas coisas a se fazer. É necessário viver, de alguma forma. Nesta noite de mesma música de sempre; mesmo trajeto; letras de forma ou rampas, eu me levei embaralhada com as fitas, pregada com os botões, esperando engarrafamentos e manifestações. Nesta noite eu quis beber algo forte; frutas vermelhas, maracujá, pêssego, nem pensar! Abacaxi. Na sala, livros sobre meninos, livros sobre meninas, livros sobre crianças, sobre soluções para a vida, e 'A arca de Noé: Vinicius de Moraes'. Ponto. A menina das fotos eu já conhecia, muito mais bonita que nas fotos, aliás.
E volto.
Tenho que que descansar para o amanhã.