domingo, 30 de novembro de 2008

ventania

Larguei meu forte cavalo no asfalto, sem água, sem comida, sem luz. Ele estava com as ferraduras gastas e com o casco prejudicado. Fui andando sem olhar pra trás, sussurrando palavras de graça para me convencer que não há ingratidão em mim. Até que o sol foi surgindo, minhas mãos se tornaram suadas e o meu hálito seco. Daí então, senti falta de meu cavalo, de suas costas sempre dispostas a me carregar.
E não tinha graça.
Com o sol a pino bebia minhas lágrimas salgadas e me arrependia de deixá-las sair e escorrer pelo meu rosto vermelho de vergonha.
Andei, andei, andei. Lembrei de um sonho de criança tão real que deixa dúvidas se era um sonho ou não. Andando e dando impulsos para o alto eu poderia voar por instantes mas, deveria sempre passar pelas sombras de uma figueira. Já não voava mais, já não era criança e o pesadelo era muito real.
Descansei debaixo de uma grande nuvem que escondia o céu. Acordei, já não havia mais nuvem. Meditei buscando respostas nas estrelas. Olhei pro lado, vi meu cavalo perto de mim.

num dia desses

O cinema é tudo, roteiro é quebra-cabeça, direção é poder. Caço olhares pelas ruas, não encontro descanso em nenhum. Minha força de outrora vinha de meus olhos quase fechados e agora, na fraqueza, não sei bem se eles estão abertos ou cerrados.
Vãs atitudes e vontades alheias. Aquilo que me segue eu já ultrapassei, corro longe entre as folhas que flutuam no vendaval. Sei que a chuva chega, que a folhas descansam no chão, que pingos grossos lavam por aqui, imundam outros cantos, criam lama.
Cadeiras vazias preenchem a sala, cabeças vazias esvaziam a sala.
O cinema é livre, quase que livre da ética pois a considera universal. Ética universal. Se não houvesse o dilema ético a vida não teria graça nem seria de graça.
Chamo alguém em pensamento. Deixo marcas em meus dedos, números de 0 a 9 que disco sem parar. Mas ninguém atende.