sábado, 30 de outubro de 2010

Preenchendo os buracos

As necessidades dos homens se resumem no simples preenchimento de buracos. Entre as pernas, na alma, estômago, coração e a boca cheia de palavras. Primeiramente vou perguntar sobre a ética, quero saber quem poderá impunemente falar sobre isso, ditar castigos e avaliar intenções. Quero ser pregada nesta cruz e ver de quantas pedras tenho que desviar. Não quero, mas tenho que sentir no ar hostilidade, pressentir mesmo durante a viagem o buraco crescer. Tão largo quanto mais fundo, eu devo ser aquele monstro do desencontro, que não sabe porque assusta tanto e se torna mais monstruoso de muito se perguntar. Deve ser verdade, se tantos olhos se desviam de mim, se é real a areia no chão e só o sonho do castelo pairando, silencioso, constrangedor, reticente... Estas projeções podem ser flutuantes, tais como telas frouxas no vendaval... os relâmpagos são para os olhos abertos, pra pele mais lisa que anuncia ânsia sem explicação. Eu vi os relâmpagos e eles anunciavam temporal. A denuncia não é protesto, é apenas julgamento sem lei, na terra sem reis, sem réus inocentes. E para preencher buracos é preciso maltratar, cortar na carne e vê se arde. Vai arder sim, mas se a dor não for em mim eu sigo. Se for, insisto.
Eu preciso voltar.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Se eu soubesse não falaria, é isso. Só falo do que pouco sei, se sei demais já é óbvio e basta. Mas não basta aqui e agora, já bastava em todos os lugares e sempre; tempo demais, tempo demais que já passou. Muitos burros morreram atropelados, muitas ambulâncias já correram por essas ruas, e nenhuma salvou o burro.
Nem eu fui salva, nem o coração de uma criança azeitona pulsando. Matei homens e deus, quis que tudo se acabasse de uma só vez, e assim disse todas as palavras em todos os momentos e calei quando por dentro maquinava, moía, roía sofrimento. Em todos os momentos. Voa voa lenço branco, chuta a bola Pé de Pano, levanta do asfalto burro cinza. Prefiro saber, saber e lutar sem gana de vencer. E aí não adianta sussurros, eu não vou ouvir, nem jogar o lenço, o corpo ou o olho. Ponho o olho, ponho o olho, vejo abortos coletivos, homens e burros no mesmo pasto e gentes mais verdades no meu tato.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

esse cara

Chego assim sem avisar, mas trago boas novas: venha tragar do sangue que trago. Eu trago seu ar, sim, espero apertar mãos, mas aperto apenas uma vez os lábios em direção a seus olhos... tão apertados e camuflados. Infantis e criminosos. É exatamente assim como falo, disponha minha ronda com quem vive em minha natureza, quem olha nos olhos e sussurra as verdades mais doloridas. Ofereço escolhas e meu sangue, e depois, já propomos acordos de dois, de sonho e sono. Zum zum zum, são os mosquitos chamando, minhas mãos procurando e vitórias sem glórias.
Não não não, eu decifro seu olhar, e dou tempo pra pensar... é o risco que se corre. Eu corro por fora e crio expectativas em potenciais. Tantos guerreiros se formam...
Vamos por agora guardar o tempo. As respostas vêm depois.