segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

LIBRAS

Por quem os sinos tocam? Onde dobram os papéis? Qual elo desata? Quem voa, foge, corre?
Por aqui, todas as frases dizem muito, poucos entendem. Quem chega esta acompanhado do amor. Aquele mesmo amor que passeava por praias desertas e não cumprimentava ninguém (?).
Embaralho, voz que canta, mãos que tocam. Balé e psicologia. Em outros campos, verdes campos, girassóis escondem pedras e sorrisos mostram dentes. Boca doente.
Não é aqui, abraços não são pra mim. Quem chama, clama, espera abrigo. Sem riso, num barco que passa pra lá. E lá é onde ninguém se acha.
Ervas, frutas, rum, sangue, índios, troca, terra, dinheiro estrangeiro.
Embaralho, troco e no fim da noite morenos desejos de um REI.
Erva daninha ornamental, fotografias que não captam sorrisos perfeitos. A vida que eu crio ou a que sai de mim. É vida.
Não há possibilidade de fugir do biográfico. Do eu, mim e aqui.
Língua pra que te quero?

domingo, 7 de dezembro de 2008

"seu desprezo me tornou compositor"

O último dia de despedida. Palavras codificadas são espalhadas pelo ventilador. Tente a sorte na incerteza, sem maçã, sem amor. Assuntos cabulosos ditos por bocas estúpidas. Mas, olhos de um azul limpo tornam as palavras agradáveis, sem o sentido óbvio do que a boca disse. Boca mentirosa.
As mentiras ditas infinitas vezes quase se tornam verdades no infinito. Convites não enviados, nomes perguntados, mitos desmistificados. Pra longe vai a solidão, a depressão, aquilo que é vazio ou cheio de preocupação. Chamam de vida o que está no chão, mistério o que está no céu. Num rastro de foguete, de crianças que brincam de brigar, que brigam por não brincarem. No rastro de foguete há metais pesados. Da janela do quarto uma Belém encharcada. No amanhecer do dia um céu cor de rosa. Um sobrenome Rosa, dois sertões distantes.
Se é fauna ou flora, não importa. De natureza morta fiz prosa.

sábado, 6 de dezembro de 2008

roteiro

all star sem cadarço
flor sem pólen
casaco frio
chiclete sem açúcar
imagem sem ação
domínios morfoclimáticos mofados
no princípio era o fim
liberdade de ventilador
linhas certas escritas tortas
vanguarda decadente
escada sem degrau
óculos embaçado
felicidade clandestina
braço de rio
branco encardido
criança sem riso
cabeça sem cabelo
polegar sem digital
aula sem recreio
refrigerante diet
dieta de engorda
temer o medo
palavras curtas

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Na quarta feira de cinzas ele virou sociólogo.

Método falho, relógio atrasado, ponto de ônibus quase vazio, ônibus quebrado, céu nublado e chuva de ar condicionado.
Entre 11:30 e 13:00 todos os barulhos me chamam atenção. Depois disso, meus ouvidos trabalham em vão. Aquele meu olhar perdido conservo assim, sem culpa se alguém ainda terá pena de mim. Olhar perdido no concreto, no final do dia, fechado numa piscada de brinde de cerveja.
E continua com pessoas estranhas à mesa numa comemoração que não é minha mas, já foi. Brindes de mãos tremulas, estomagos vazios e preenchidos de vento. Luzes de farol, ostras que não se abrem e solitários na ponte alagada. O rio subiu e 10 mil sem teto sentindo os pingos cairem.
A liberdade de botequim, os jardins de paisagismo, cadeiras e mesas azuis e amarelas. Na janela, chuva.

domingo, 30 de novembro de 2008

ventania

Larguei meu forte cavalo no asfalto, sem água, sem comida, sem luz. Ele estava com as ferraduras gastas e com o casco prejudicado. Fui andando sem olhar pra trás, sussurrando palavras de graça para me convencer que não há ingratidão em mim. Até que o sol foi surgindo, minhas mãos se tornaram suadas e o meu hálito seco. Daí então, senti falta de meu cavalo, de suas costas sempre dispostas a me carregar.
E não tinha graça.
Com o sol a pino bebia minhas lágrimas salgadas e me arrependia de deixá-las sair e escorrer pelo meu rosto vermelho de vergonha.
Andei, andei, andei. Lembrei de um sonho de criança tão real que deixa dúvidas se era um sonho ou não. Andando e dando impulsos para o alto eu poderia voar por instantes mas, deveria sempre passar pelas sombras de uma figueira. Já não voava mais, já não era criança e o pesadelo era muito real.
Descansei debaixo de uma grande nuvem que escondia o céu. Acordei, já não havia mais nuvem. Meditei buscando respostas nas estrelas. Olhei pro lado, vi meu cavalo perto de mim.

num dia desses

O cinema é tudo, roteiro é quebra-cabeça, direção é poder. Caço olhares pelas ruas, não encontro descanso em nenhum. Minha força de outrora vinha de meus olhos quase fechados e agora, na fraqueza, não sei bem se eles estão abertos ou cerrados.
Vãs atitudes e vontades alheias. Aquilo que me segue eu já ultrapassei, corro longe entre as folhas que flutuam no vendaval. Sei que a chuva chega, que a folhas descansam no chão, que pingos grossos lavam por aqui, imundam outros cantos, criam lama.
Cadeiras vazias preenchem a sala, cabeças vazias esvaziam a sala.
O cinema é livre, quase que livre da ética pois a considera universal. Ética universal. Se não houvesse o dilema ético a vida não teria graça nem seria de graça.
Chamo alguém em pensamento. Deixo marcas em meus dedos, números de 0 a 9 que disco sem parar. Mas ninguém atende.