domingo, 8 de fevereiro de 2009

Porque eu não tenho tempo para o comum, daí busco a todo tempo a inexistência social como forma de existir dentro de mim, de só ter pensamentos livres como companhia, me envolver na preguiça e nela descansar meu corpo. Eu não tenho tempo para o comum e vivo no lugar-comum, muitas vezes utilizo do senso comum, tantas vezes sábio senso comum, na maioria das vezes sábio senso comum. Os sonhos comuns como carro, casa, emprego, viagens, jantares e almoços de domingo concretizam a tão requisitada existência social. O ingresso pro abismo do lugar comum, de pessoas e atitudes comuns. Compre um carro e exista socialmente no engarrafamento, compre um apartamento e exista socialmente na reunião de condóminos, no domingo exista socialmente ao lado de dezenas de famílias famintas por macarrão.
O que importa é o que ganhamos e também o que doamos. Importa o sacrifício da ajuda e o prazer da utilidade para alguém. Atitudes corretas não rebatem na consciência, elas percorrem um pequeno caminho e correm rápido para engrandecer a alma. E como é complicado tocar a sinceridade, a genuinidade, as vontades primárias e louváveis. Como é complicado fazer do comum o diferente, o especial. Basta apenas um ponto de vista, o que era comum aqui mais adiante pode parecer cheio de encantos, sedução e desejos.
Por falar em coisas carnais, coisas que saciam, digo-lhes que pode ser amanhã meu encontro. Pode ser amanhã o fim dos uivos loucos de insatisfação, dos olhares instigadores. Até amanhã, o dia que pode ser, deixo meus ouvidos preparados para ao toque do não comum ouvirem em estéreo. Sendo estéreo, quem escuta primeiro é o coração, e aquela bateria ainda bate lá dentro. Claro, fui ansiosa em fugir do comum e meu coração emanava um som estéreo ritmado. Fui surpreendida por visões psicodélicas de bocas se encontrando, os dedos da minha mão escorregando entre o suor da sua. Era a camuflada manifestação do comum. E na rua, sem a companhia da lua e dos beijos certeiros e cheios de significado, escolho o comum que pra mim nada significa. Na despedida do instigante, do embebido de risos, poças d'água, abraços em árvores, impetuosidade, digo boa noite com o olhar de quem quer pedir desculpas, de quem se envergonha por escolher o comum.
O comum tem seu lado bom. Por vezes surpreendente. Ah, engano seu, corpo traidor. O comum é óbvio demais, mesquinho demais, egoísta demais. Não se enverede por aquilo que se apresentou ao seu olho, não se engane. Por que desprezar tanto o comum, o simples, o bucolismo de olhos fechados?
Se não há tempo para o comum, se perca no vazio da incompletude do mágico, especial, excêntrico. Não há completude sem o comum.