domingo, 26 de abril de 2009

só pode ser a inquietude que me faz correr, dançar, manter joelhos firmes. A inquietude é culpada pela minha falta de concentração.
Meus 23 se esvaindo e eu continuo refletindo o que se mostra a todo o tempo menos importante. E não há solução. Passo o dia ouvindo música, escolhendo colares, testando olhares... Pensamentos loucos, realidades incríveis, novas formas de barbárie, barbarizar, bárbaro! na sexta feira 24, faltando 48 para os 24 batem a minha porta gripe e crise. Juntas, de uma vez só. Tomaram conta de mim pela chuva, pela terra, pelo vento, pelo calor. Crise e gripe.
Na pia a pilha de louça do dia anterior e em dias de crise e gripe lógico que a água fria vai congelar meu coração. Estou perdida.
Acordei assim, abrindo a ultima página do Apocalipse. Me protegi com vermelho, sacrifiquei o cordeiro.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

mu-rá rá rá rá

Me achei entre o verde, pulando pedras grandes, separadas umas das outras. Estava com pés na água fria, pernas cheias de arranhões, mas não senti. Folhas caiam e bocas murmuravam o porque da existência. Eram só bichos, mães, vacas, macacos, onças, preguiças. Não havia preguiça, apenas descanso. Havia opções.
Estava entre o verde e pedi bênçãos a gigantes adormecidos nas montanhas. Eles, num bocejo, nos abençoaram. Seguraram a minha mão e pediram bênçãos a quem criou, divindade, pai, Deus. Seguraram minhas mãos, eu fechei os olhos e me abri pro verde.
Vi crianças que nunca choram e mulheres corajosas e fortes como as pedras que eu massacrava com os pés. Meu pensamento vagava por entre trilhas e ladeiras íngrimes, enquanto isso os pés escorregavam no limo viscoso.
Me repetem que nada adianta o planejamento. Bad, pró, muchachos, buchechonas, imbélezando, cajuzinho, arthuranderson, anos 70, laranja de matar, física quântica. BOOM.
Me achei entre o verde.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

explico antes ou depois? Deixa que ele explica.
"Porque só a ti preciso contar tudo, porque me és necessário, porque amanhã vou cair das nuvens e minha vida vai acabar e começar ao mesmo tempo. Já experimentaste alguma vez, ao menos em sonho, como se cai do alto de uma montanha? Pois bem...estou caindo e não é sonho. Não tenho medo e peço que também não temas... isto é, sim, tenho medo, mas esse medo traz uma sensação de doçura...ou melhor, não é bem doçura, mas um júbilo muito intenso.... Com todos os diabos! Pouco importa o que isso seja. espírito forte, espírito fraco, espírito de mulher - pouco importa! Louvemos a natureza: olha este sol, o céu tão azul, as folhas tão verdes - NÃO estamos em pleno verão."
DOSTOIEVSKI
Já pensei muito sobre os motivos que me levam a perseverar. Ainda penso, penso neles todos os dias, reflito, conscientizo. Quase que chego a conclusão de que as coisas ocuparão seus devidos lugares, mais cedo ou tarde. Só que agora estou num momento de espera, aguardando o final de um ciclo e nesse aguardar vivencio o instante, o presente, sedimento o passado minuto após minuto.Me falaram que sou complicada, estranha, surpreendente e que encaro as coisas em profundidade. Assumo, vivo em profundidade cada segundo da minha vida. Eu mergulho e quase sempre volto desesperada por ar, por ar. Por que não encontro o que tanto procuro? não obtenho o que tanto almejo? não se personificam as respostas que tanto necessito? sinto, como que em infinitos arrepios que algo surpreendentemente incrível me aguarda. Sobre tudo o que penso e reflito uma parcela pequena perpassa ao UNO. Quando sou DUO, TRIO (...) é apenas um floco de inspiração, uma faísca do eu. E eu não sei explicar. Não sei porque persigo tanto o amor, deve ser pra completar, pra somar. Achar algo no outro que explique por que somos assim, e Por que? No fundo, não paro de mergulhar, nunca parei. è o mergulho no penhasco de Dostoievski e não tem volta, não tem volta.

terça-feira, 7 de abril de 2009

a historia de Acauã

No dia em que Acauã nasceu seu pai morreu, sua história começou ali e mal ela tinha começado uma parte já havia se perdido. Acauã era um menino forte, esperto, mais esperto do que as crianças da sua idade. Vivia cercado de árvores, num lugar onde é possível resgatar o bucólico. Apaixonado por pássaros, aprendeu desde cedo a comunicar-se com eles, eram assobios diversos que os pássaros respondiam numa intensa algazarra. Dos vestígios de sua origem, restava-lhe apenas a mãe. Seu primeiro brinquedo, um carrinho de fricção, era vermelho, assim como sua camiseta preferida e seu primeiro caderno. O vermelho o perseguia, nas flores, no chão que pisava, nos muros da vizinhança, nas frutas que apreciava, nas letras que Acauã desenhava.
Cresceu sabendo que deveria buscar sua história, seu passado, os genes desconhecidos. E foi. Ainda criança surgiu uma primeira pista, na verdade, uma certeza que Acauã carregou consigo e dela ele se lembrava toda vez que o chamavam. Acauã. Na escola comemoravam o dia do índio, Acauã estava pintado como um, na cabeça penachos que não poderiam ser de outra cor que não vermelho. Acauã descobriu que carregava em seu nome a denominação Tupi para papagaio de cabeça vermelha.
Já apaixonado por pássaros, Acauã queria porque queria ter um papagaio de cabeça vermelha, talvez para ficar mais próximo de si. E não havia jeito, lembrava seu desejo diariamente a sua mãe. Acauã não dormia nem comia direito, necessitava do papagaio de cabeça vermelha, Acauã. Sua mãe entendendo que não haveria como aplacar a vontade do filho de possuir tal pássaro resolveu comprar um e presentear Acauã. Mas, tamanha era a dificuldade em comprar um animal silvestre, que mesmo relutando contra isso a mãe de Acauã sucumbiu aos meios ilegais para realizar o desejo do filho. Indicaram-lhe um senhor que provavelmente forneceria o tal papagaio de cabeça vermelha. No dia combinado, lá estava a mãe de Acauã segurando sua mão em frente a casa do senhor dos pássaros. Diante do tal senhor, a mãe de Acauã estava paralisada, não era senão o pai do seu marido falecido que estava diante de si, o avô de Acauã.
Diante do Embaraço da situação, e ainda segurando a mão do filho que quase escorregava devido ao suor do nervosismo, ela entendeu que não foi apenas uma fatalidade terem encontrado o corpo do marido embrenhado na floresta. Não foi uma vã crueldade os tiros despendidos contra ele. O pai de Acauã também apaixonado por pássaros pagou com a vida por cercear a liberdade dos pássaros que amava de um jeito peculiar. Deixou ao mundo Acauã, um menino papagaio de cabeça vermelha. Seu avô lhe explicou que não havia e nem haveria de ter naquela casa nenhum pássaro engaiolado, e que, da mesma forma que era impossível possuir pessoas, também era impossível possuir pássaros. Eles não pertenciam a outro lugar senão a floresta, a mata, o céu. A partir de então, Acauã voltou a pertencer à floresta, à mata e ao céu e não havia mais nada que lhe pertencia, apenas aquilo que ele apreciava. Assim como o seu nome, o vermelho e os pássaros.